Conteúdo organizado por Renato Cividini Matthiesen em 2023 do livro Internacionalização de empresas: teorias e aplicações, publicado em 2013 por Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da Silveira, pela editora Saint Paul.
A expansão internacional de empresas
Interessante se faz perceber que algumas organizações da atualidade são bem conhecidas, que possuem grandes estruturas físicas e virtuais de seus negócios, passaram pelo processo de internacionalização já há algum tempo. Muitas delas tinham suas operações baseadas em comércio tradicional, de compra, produção e venda de produtos, em atacado ou varejo, e primeiramente se expandiram dentro deste modelo de negócios. Porém, considerando o final do século XX e a primeira década do novo milênio, as empresas expandiram-se internacionalmente também fazendo uso intenso de tecnologia e sistemas de informação para apoiar seus negócios de produção e venda de produtos.
Por outro lado, uma grande quantidade de empresas nasceu com a ascensão da computação pessoal e da Internet nas duas últimas décadas dos anos 1900 e duas primeiras dos anos 2000, baseando-se de forma integral em plataformas digitais e na reformatação de um mercado de serviços baseado na informação. Os negócios digitais acabaram por estar presentes em praticamente todas as empresas, independente de sua natureza de atuação, criando um novo mundo de negócios, sem fronteiras, conforme refletem Madeira e Silveira (2013).
Negócios digitais é um termo que remete ao chamado e-business e é frequentemente utilizado e junto a negócios realizados através de sistemas que utilizam meios eletrônicos e são suportados pela internet conforme relatam Laudon e Laudon (2014). Os negócios eletrônicos que utilizam os modelos de negócios digitais agregam operações sobre modelos de comercialização de produtos e serviços, relacionamento com o cliente e relacionamento com o fornecedor, pesquisas de mercado, modalidades de ensino a distância, operações bancárias dentro de plataformas eletrônicas, que se desdobram e suportam diversas modalidades de e-commerce.
Assista a animação As 15 maiores empresas do mundo – de 2000 a 2019 que traz uma animação com um gráfico que demonstra a evolução das empresas no planeta e o ranking através destes últimos vinte anos.
"As 15 maiores empresas do mundo - De 2000 - 2019"
Link: https://youtu.be/y21wNe28LUs. Acesso em: 17 dez. 2022.
Algumas das empresas em particular passaram pelo processo de internacionalização já há algum tempo e possuem destaque no mercado internacional. Madeira e Silveira (2013, p. 39) entendem que muitas das formas de atuação empresarial da atualidade fizeram uso do conhecimento desenvolvido por estas empresas, e acabaram por auxiliar outras a também buscarem estratégias para atuação em mercados internacionais. As empresas que tomamos como exemplos de internacionalização foram resultados de uma evolução longa e relacionada a outros movimentos históricos cujo principal marco é a Revolução Industrial e dos incríveis avanços da eletricidade e eletrônica que incrementaram os meios de comunicação e logística no século XX.
Singer: empresa produtora de máquinas de costura e bem de consumo final, que em 1850 buscou patentear uma máquina de costura e logo em 1855 inicia seu processo de expansão internacional com venda de duas máquinas no mercado francês. Já em 1920 a empresa possuía nove fábricas em diferentes países, com 27 mil funcionários e mais de 3 mil modelos de máquinas de costura.
Faber Castel: considerado como um dos grupos empresariais mais antigos do mundo, teve início de operações em 1761, antes da Revolução Francesa com a criação de um lápis de chumbo na cidade de Stein na Alemanha. Em 1849 inicia seu processo de internacionalização com uma fábrica em Paris e outra em Londres, seguida de outras em Viena e São Petersburgo. A empresa continuou com o processo de criação de fábricas em outros países de forma mais acentuada após os anos 1950 e permanece hoje ainda nas mãos dos descendentes da família fundadora. Está presente em mais de 100 países, contando com 14 fábricas, 20 escritórios comerciais e mais de 7000 colaboradores.
John Deere: uma das primeiras empresas a atuar internacionalmente, criada em 1837 nos Estados Unidos. Teve como primeiro produto o ferro forjado para ferramentas agrícolas, que foi o primeiro a ser produzido industrialmente na história. Em 1863 a empresa lança o primeiro cultivador motorizado, em 1912 John Deere já possui 11 fábricas nos Estados Unidos e uma no exterior. Atualmente a empresa possui cerca de 50000 colaboradores em 21 países.
C&A: iniciou sua história em 1841 com a abertura de um centro de distribuição para comercializar produtos têxteis na Holanda. Com o passar do tempo, ocorreu a expansão para mercados externos com lojas na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Irlanda dentre outras na Europa. Atualmente a empresa possui lojas espalhadas pelos shoppings centers do mundo todo.
Sears: fundada em 1886 por Richard Warren Sears, iniciou a venda de relógios nos Estados Unidos, sendo pioneira na venda por catálogos. Em 1905 a empresa implanta a ideia de anotar o nome e o endereço das pessoas para as quais os catálogos eram entregues e cria um programa de premiação para os cadastrados. Em 1942 é aberta a primeira loja no exterior, em Cuba e a partir de 1947 inicia-se a expansão mais agressiva com lojas no México, Europa e América do Sul.
Walmart: a empresa surgiu a partir de um empório no interior dos Estados Unidos, criado por Samuel Moore Walton e James Walton. O primeiro centro de distribuição da empresa surge em 1970, data que a empresa já possuía 78 sócios e 32 lojas. Em 1977 a empresa tinha 195 lojas. Ampliou suas operações formando o chamado Sam’s Club e Supercenter, chegando a 70 lojas em 1995. Em 2006 a empresa adentra ao mercado de comércio eletrônico, tornando-se uma das mais importantes lojas de varejo do planeta. Atualmente a empresa é formada por diversas bandeiras, como Walmart Supercenter, Maxxi Atacado, Walmart Supermercados, Todo dia e Sam´s Club.
Carrefour: criada em 1959 na França, atua no ramo de varejo com expansão significativa desde a sua fundação. Em 1989 se tornou o primeiro varejista mundial a ingressar no mercado asiático e em 2001 iniciou o comércio eletrônico no site OOshop. Atualmente a empresa é formada pelo Carrefour Hiper, Carrefour Market, Carrefour Drogaria, Carrefour Bairro, Carrefour Express, Carrefour Posto, Atacadão e Supeco. No Brasil a empresa possui cerca de 700 lojas com mais de 90 mil funcionários.
Assista o vídeo: A história do Walmart.
"A HISTÓRIA DO WALMART - LER E EMPREENDER"
Link: https://youtu.be/85S91vh2j9o. Acesso em: 17 dez. 2022.
As organizações exponenciais são representadas por organizações empresariais voltadas à negócios da atualidade, que sustentam um pensamento de grandiosidade, baseado em um PTM (Propósito Transformador Massivo). Estas empresas pensam grande, buscam realizar negócios de grande impacto para a humanidade e em nível global. Para Ismail, Malone e Geest (2019, p. 19), organizações exponenciais “são aquelas cujo impacto é, pelo menos, dez vezes maior, comparado aos de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas”. Elas estão centradas na transformação digital como elemento disruptivo de negócios. O contexto de haver inovação não pode ser exclusivo de startups.
Ao avaliarmos o perfil das empresas que tiveram um desenvolvimento de negócios nos últimos 20 ou 30 anos, quatro grandes empresas da área de tecnologia da informação geraram mais alegria, conexões, prosperidade e descobertas do que qualquer outra entidade da história humana, relata Galloway, 2017. A Apple, a Amazon, o Facebook e o Google, já apresentados, ou ainda o Uber, Airbnb, Tesla, Ted, dentre muitas outras são empresas que modificaram (e continuam modificando) a forma como as pessoas vivem. Estas empresas são responsáveis por uma série de produtos e serviços como os smartphones, aparelho que materializa o pensamento de Gattes e Rinearson (1995) de que em um futuro próximo haveria computadores no bolso de todas as pessoas. Atualmente estes smartphones (computadores de bolso) levam a Internet a países em desenvolvimento e mapeiam todo o planeta movimentando negócios acima dos trilhões de dólares.
Chiavenato (2021, p. 378), um dos principais pensadores da administração no Brasil relata uma pesquisa da McKinsey que apresentou “empresas que conseguiram se transformar em organizações digitais de alto empenho como àquelas que são capazes de orquestrar seis abordagens importantes: estratégia e inovação, visão sobre a decisão do cliente, automação de processos, organização, tecnologia e dados com analytics”. Veja a figura 1 com uma diagramação destas abordagens estratégicas.
Figura 1 – Estratégias de empresas digitais de alto desempenho
Fonte: adaptado de Chiavenato (2021).
As organizações exponenciais utilizam-se de estratégia e inovação, já também apresentado como importante elemento da atitude inovadora de Farrell (2019); visão sobre decisão do cliente; automação de processos; organização; uso intenso de tecnologias e o analytics como novo conceito de gestão baseado em análise de dados.
Diamandis e Kotler (2019, p. 51) refletem que “o mundo global e exponencial é diferente daquele que nosso cérebro evoluiu para entender”, porém a adaptação para o pensamento inovador é possível. Estes autores apresentam um conjunto de oito princípios de inovação praticados pela Google na governança de suas estratégias corporativas baseadas em tecnologia. Conheça esses princípios: foco no usuário, compartilhamento, busca por ideias em toda parte, pensamento grande, mas com atividades iniciais pequenas, fracasso como aprendizado, imaginação para desencadear ideias alimentadas com dados, negócios baseados em plataformas digitais e uma missão significativa.
As organizações exponenciais pertencem a ambientes dinâmicos que possuem características particulares. Estas organizações possuem, de acordo com Ismail, Malone e van Geest (2019) nove dinâmicas que as diferenciam de outras
Nas décadas de 1950 e 1960 haviam poucas multinacionais, ou empresas globais com exceção das já bem-conceituadas General Motors, Ford, Fiat, Nestlé, Siemens, Toyota, Sony, apenas como alguns exemplos. Foi apenas a partir dos anos 1970 que corporações começaram a observar com maior relevância a possibilidade de expansão de seus negócios para outros locais no nosso planeta. As multinacionais romperam os limites territoriais e políticos com uma expansão globalizada a partir dos anos 1980 e tiveram uma alavanca de crescimento e disseminação a partir dos anos 2000, com o uso mais intenso dos novos meios de transporte e logística e sobretudo da tecnologia da informação.
Perceba, caro leitor, que apesar de a globalização não ser recente, a forma de desenvolvimento de produtos e o desenvolvimento das grandes corporações mundiais não é antiga. E, o ritmo de crescimento e alcance global de negócios em alguns casos é rápido. Veja por exemplo as reflexões de Galloway (2017) sobre o Facebook ter surgido apenas em 2004, a Amazon passar a vender poucos produtos neste período e nos dez anos seguintes passar a ser um conglomerado de empresas ramificadas em diversas áreas, com investimentos de US$ 4,5 bilhões apenas para a criação de filmes e séries. Outro exemplo é o crescimento ainda maior e mais diversificado para mercados distantes da Apple, após o lançamento do iPhone em 2007.
As empresas se tornaram globais por consequência da melhoria dos meios de transporte, uso intenso de tecnologias e sistemas de informação através de sistemas computacionais e da Internet. O encurtamento do tempo de deslocamento entre diferentes países oportunizou que empresas pudessem migrar de seus países sede e levar operações para múltiplos locais do mundo. Assim, parte das grandes empresas se tornaram globais, não apenas abastecendo diferentes países com seus produtos e serviços, mas também levando suas organizações, ou parte delas, a diferentes locais geográficos do planeta.
Nesta unidade, vimos que algumas das empresas em particular passaram pelo processo de internacionalização já há algum tempo e possuem destaque no mercado internacional. Muitas das formas de atuação empresarial da atualidade fizeram uso do conhecimento desenvolvido por estas empresas, e acabaram por auxiliar outras a também buscarem estratégias para atuação em mercados internacionais. As empresas que tomamos como exemplos de internacionalização foram resultados de uma evolução longa e relacionada a outros movimentos históricos cujo principal marco é a Revolução Industrial e dos incríveis avanços da eletricidade e eletrônica que incrementaram os meios de comunicação e logística no século XX. São exemplos de empresas internacionalizadas: Singer, Faber Castell, John Deere, C&A, Sears, Walmart e Carrefour. Vimos também que as organizações exponenciais são representadas por organizações empresariais voltadas à negócios da atualidade, que sustentam um pensamento de grandiosidade, baseado em um Propósito Transformador Massivo (PTM). Estas empresas pensam grande, buscam realizar negócios de grande impacto para a humanidade e em nível global. As organizações exponenciais são aquelas cujo impacto é, pelo menos, dez vezes maior, comparado aos de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas. São exemplos: Google, Facebook, Amazon, Microsoft e Apple. Essas empresas: consideram que: Consideram que a informação acelera tudo; percorrem uma forte corrida para a desmonetização (desmaterializando o que pode ser digitalizado); a disrupção é a nova norma; o menor vence o maior; alugam dispositivos e equipamentos, e não os compram e colocam a confiança no lugar de controle e o aberto no lugar do fechado.
Referências
Bibliográficas
Cavusgil, S. T. (2010). Negócios internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson Prentice Hall.
Chiavenato, Idalberto. (2021). Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração nas organizações, 5. ed. São Paulo: Atlas.
Clark, Duncan. (2019). Alibaba, a gigante do comércio eletrônico: o império construído por Jack Ma, 1. ed. Rio de Janeiro: BestSeller.
Diamandis, Peter; Kotler, Steven. Oportunidades exponenciais: um manual prático para transformar os maiores problemas do mundo nas maiores oportunidades de negócio. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.
Farrel, L. C. (2019). Atitude empreendedora: lições de negócios e de vida da Junior Achievement, há 100 anos desenvolvendo jovens empreendedores em todo o mundo. Rio de Janeiro: Sextante.
Galloway, Scott. (2017). Os quatro: Apple, Amazon, Facebook e Google. São Paulo: HSM.
Ismail, Salim; Malone, Michael, S.; Geest, Yuri. (2019). Organizações exponenciais: por que elas são 10 vezes melhores, mais rápidas e mais baratas que a sua (e o que fazer a respeito), Rio de Janeiro: Alta Books.
Laudon, Kenneth, C.; Laudon, Jane, P. (2014). Sistemas de Informação Gerencial. 11 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil.
Leonhard, Gerd. (2018). Tecnologia versus Humanidade: o confronto entre a máquina e o homem. Lisboa, PT: Gradiva Publicações.
Madeira, A. B.; Silveira, K. A. G. (2013). Internacionalização de empresas: teorias e aplicações. São Paulo. BR: Saint Paul.
Stefano, Nara; Zattar, Izabel Cristina. (2016). E-commerce: conceitos, implementação e gestão. Curitiba: Editora InterSaberes.
Business Strategy in the Global Economy - BUS530 - 2.1
A expansão internacional de empresas
Imagens: Shutterstock
Livro de Referência:
Internacionalização de Empresas: Teorias e Aplicações
Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da Silveira
Saint Paul, 2013